Vida Espiritual

Vida Espiritual

O que é a direção espiritual?

Vejo que se recomenda a Direção Espiritual como um meio muito bom para o discernimento vocacional. O que é exatamente a Direção Espiritual? É o mesmo que a Confissão?
Ótima pergunta! A Direção Espiritual é um meio de santificação que a Igreja oferece como um meio para quem está buscando a santidade. Em um diálogo na fé e baixo a ação do Espírito Santo, o dirigido vai descobrindo juntamente com seu diretor espiritual a Vontade de Deus para sua vida concreta.
A Direção espiritual é uma prática que se iniciou desde os primórdios do cristianismo e se fundamentou principalmente na experiência dos padres do deserto. Ela foi consolidando-se ao longo da história, até o ponto de ser sumamente recomendada.
Ela tem algumas características essenciais, como o ter um diretor fixo e uma profunda abertura para com ele que conheça a fundo seu dirigido, a visão sobrenatural, profundidade, regularidade e praticidade (se concretize na própria vida).
A direção espiritual pode se confundir com a confissão ou com conselhos espirituais, mas sobretudo, ela é um ministério eclesial de acompanhamento para quem realmente quer e está no caminho da santidade.

Vale a pena “perder tempo” na oração?

Muitas pessoas dizem que eu tenho que rezar para poder descobrir a minha vocação. O problema é que por mais que eu reze, não consigo descobrir o que Deus quer de mim. Vou na capela e repito uma e outra vez o “Pai-Nosso” a “Ave- Maria” e algumas novenas que tenho…, mas não consigo escutar a Deus. Realmente vale a pena “perder o tempo” rezando?
Vivemos em um tempo em que buscamos respostas imediatas; por isso, algumas coisas que não conseguimos medir os resultados com rapidez, como a oração, podem parecer uma perda de tempo. Também pode ser que nos falte mais fé em Deus e no poder da oração. O inimigo da nossa alma e da nossa alegria crê no valor desta oração e por isso tenta por todos os meios possível nos separar dela e fazer com que creiamos que seja uma perda de tempo. A oração é o melhor investimento de tempo que fazemos. Porém rezar não é repetir mecanicamente fórmulas devocionais. A oração vocal (repetir uma fórmula) é muito boa e necessária, mas não é o único tipo de oração que devemos fazer. Ademais, para que seja uma verdadeira oração, se deve procurar que exista uma sintonia entre as palavras e o coração, pois tudo isso não é uma fórmula mágica, mas sim um diálogo entre mim e Deus.
Você me fala que repete as orações uma e outra vez, talvez falte dar o seguinte passo: não se trata somente de falar, mas também de dar tempo a Deus para que Ele possa expressar a sua Vontade. Também é importante que você O escute com fé e com o coração aberto. Se não estás vendo os frutos da sua oração, talvez é porque Deus queira te introduzir em uma oração mais pessoal, coração a coração. Consciente da Sua presença, aproveite para escutar a Deus e falar com Ele de ti, daquilo que Ele mais gosta: as almas, a Igreja, os que estão sofrendo, os que querem que Cristo seja mais amado…
Somente na medida em que se abandone na oração para escutar o que Deus quer você irá começar avançar por este caminho.
Uma recomendação que faço é que leia o catecismo, especialmente a parte que fala sobre a oração, pois pode te iluminar muito. Também o seu pároco, ou um sacerdote religioso podem ajudá-lo no caminho da oração. Também podes encontrar na internet bons subsídios que ajudam na oração.
Conte com as minhas orações e, por favor, não deixe de colocar nas suas orações todos aqueles que estão buscando o que Deus quer deles para que também eles sejam plenamente felizes no seu serviço.

Como posso ser santo?

Padre, eu ainda não tenho claro o que Deus me chama, mas sei que quero ser santo. O que devo fazer?
Eu ainda não sei quantos anos você tem, mas devido à pergunta que fez eu sinto que você é muito jovem… vou tentar responder. Estou muito feliz que você tenha claro que a única coisa realmente importante na vida é ser santo, ser um amigo de Deus.
O santo não é um homem que nunca cometeu pecado, mas o que está buscando crescer na sua amizade com Deus e está a caminho da perfeição no amor. Não é aquela pessoa que tem estigmas ou levita na oração, inclusive, não é aquele que não se distrai na oração nem aquele que está somente rezando todo o dia.
O santo é aquele que coloca a sua amizade com Deus em primeiro lugar e procura agradar a Deus acima de todas as coisas. É aquele que, esquecendo de si mesmo, busca mais e mais, pela graça de Deus, parecer com Jesus Cristo. Mais do que fazer as coisas, é deixar-se ser transformado pela graça de Deus e trabalhar perto desta graça. Os amigos são aqueles que querem o mesmo e rejeitam o mesmo, e, portanto, o amigo de Deus está buscando fazer a vontade de Deus em tudo e rejeita qualquer coisa que possa contradizer o que o Senhor quer. Olhando como um bom amigo, evita qualquer coisa que possa manchar a relação (como é o pecado, não apenas mortal, mas venial) e sabe pedir desculpas quando o amor falhar.
Graças a Deus, a santidade não é algo que nós inventamos, é um dom que Deus nos dá. E a santidade é medida principalmente pela caridade. Alguém pode pensar que é santo porque diz coisas bonitas sobre Deus, ou porque conhece a Bíblia, ou… Mas se faz críticas, se não ama seus irmãos, é apenas um mentiroso, pois está fora do evangelho. A caridade é o centro da santidade.
O que fazer, então, para ser santo? Reze muito, às vezes como um valente, de coração para coração. Não para impressionar a Deus com os seus discursos, mas para ouvir e fazer o que Ele disser. Incremente a sua vida sacramental, especialmente a Eucaristia e a confissão e peça a graça de amar mais. Busque um apostolado para tornar Cristo mais presente na terra. Pode ajudar muito a você ler a vida dos santos também, para ver como viveram o plano de Deus para suas vidas até o heroísmo. Quando chega a hora, Deus vai te mostrar como servi-lo, se casado, ou consagrado, como padre… Mas prepare o terreno para que a semente caia em terra boa. Peça sempre a intercessão à Santíssima Virgem Maria. E não tenhas medo de dar a vida por Cristo. Seja santo, pois só os Santos mudam o mundo!

Não é violar a consciência propor uma vocação?

Eu sou religiosa dedicada ao ensino. Na minha comunidade estamos alguns anos sem vocações. Eu acho que nós precisamos propor e convidar as jovens para conhecer o nosso modo de vida (quando me convidaram eu estudava em uma escola da congregação). No entanto, muitos me dizem que devemos respeitar a liberdade e a consciência dos outros. Sinto que há um sofisma envolvido neste conselho, mas eu não tenho certeza. O que você recomenda?
Querida irmã, obrigado pela sua pergunta. Vejo nesta sua preocupação com a falta de vocações em seu instituto, seu amor pela própria vocação e por sua comunidade. Peço ao Senhor que sempre conserve este fervor naqueles que o seguem na vida religiosa.
Como você bem observou, há um sofisma muito grande neste conselho. Não somos nós que damos a Vocação, não somos nós que a inventamos e muito menos a impomos: a vocação é uma obra de Deus, que, através do Espírito Santo, torna-se presente nos corações das pessoas que Ele escolheu para segui-lo.
Portanto, não é correto pressionar alguém para que dedique sua vida ao Senhor contra a sua vontade, nem o contrário. Isso seria uma ação errada por não respeitar a liberdade da pessoa. O mesmo Código de Direito Canônico fala que quem ingressa invalidamente no noviciado, faz os votos religiosos, ou até mesmo recebe o sacerdócio ou o sacramento do matrimônio por temor ou enganado, ou seja, não livremente, o faz de modo inválido.
Propor não significa o mesmo que pressionar. Ninguém fica chocado quando você propõe a uma menina ir para uma viagem estudar Inglês na Inglaterra. Até mesmo as universidades vão nos colégios para promover sua formação para ver se conseguem ter mais alunos. Isso é legítimo e ninguém iria dizer que é pressão ou manipulação. Essas propostas são feitas para que a pessoa possa ter opções e depois eleger livremente.
O que sim seria uma grave injustiça é o fato de ocultar algumas das opções que têm, por respeito humano, por temor ao que se irá dizer ou até mesmo pelo mal entendido “respeito” à consciência. A liberdade reside na vontade, mas a vontade somente poderá ativar-se diante de um bem conhecido. Por isso, animo que sigas dando testemunho de sua vida religiosa e busques convidar aquelas meninas que podem ter este chamado para consagrar-se inteiramente a Deus e que desejam conhecer sua comunidade. Se também tem meninos em sua escola ou conhece algum jovem, sugiro que também os convide para conhecer o seminário ou alguma ordem religiosa. Conte com nossas orações e reze para que todos os consagrados a Deus possamos dar testemunho da alegria de sermos inteiramente dEle.